domingo, 9 de outubro de 2011

Era Márcia. Não gostava do nome. Mas era o que tinha.
Tinha também um quadro cinza numa parede branca. Sentava no sofá e olhava pra ele.
Via nele cada caruncho. Comia sorvete com banana prata. Comia. Por que tomar era coisa de posse. Posse lembrava terra e terra, conflito.
Não gostava de conflitos.
Gostava de desenho animado e se machucava com freqüência. Sempre, na escada.
Morava no sótão por que era mais perto de deus. E deus não vinha muito por cá.
Era Márcia, a personagem da chuva. Não gostava do nome. Márcia. Mas era esse.
Cortava os pulsos e não morria, chorava e não via o mar . Dançava, sem ninguém cantar.
Se tivesse uma filha seria Elis.
Os cupins foram engordando no quadro. A parede começou a pulsar.
Sorria, com um pouco de medo.
Um dia, alguém do outro lado ouviu o barulho: thum! thum!
Veio ter com ela.
- Por que olhas tanto pra parede?
Sentada com um pedaço de tijolo na mão, deu mais uma mordida.
- É bonito, ver um coração não se abalar...

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